“A história que vou contar aconteceu quando eu tinha meus 10 ou 11 anos, e faço esta pequena introdução para que se torne mais fácil o entendimento da situação.

Cadu é um primo que morava fora e sempre trazia novidades quando vinha a nossa cidade. Eu sou filho adotivo e fui criado pelos meus avós, portanto minha vó é verdadeiramente minha mãe de criação ok! Explicado isso vamos em frente.

Me lembro que em uma bela manhã de sábado, eu estava sentado na frente de meu Atari 2600, jogando o único cartucho que eu tinha na época, era um que veio com o videogame (tinha quatro jogos: Boxe, Ski, Freeway e River Raid), quando meu primo, Sandro, chegou eufórico em casa:

– Natôôô… Natôôô… O Cadu tá lá na casa da vó, e ele trouxe o Atari dele que vem com 100 jogos na memória!

– Vem com o quê?

– 100 jogos na memória!

– Ahh, Mentiroso!

– ‘Cê’ vai ‘vê’, então! Ele disse que ia descer aqui e já deve ‘tá’ chegando…

[DING!  DONG!]

É O CADÚ! ELE ‘CHEGÔ’ ‘VAMO’ LÁ ! – Fomos nós correndo feito loucos descendo as escadas do sobrado, onde eu moro até hoje, para atender a campainha

– E aí ,Cadu, tudo bom? Verdade que seu videogame tem 100 jogos na memória?

– É sim vamos lá jogar!

Nisso meu primo já subiu as escadas, mais rápido que um raio, e sentou em uma das únicas duas cadeiras que eu tinha no quarto! A outra, é claro, era pro Cadu. Que era a visita.

– Sai do meu lugar Sandro!

– Ah já sentei, perdeu o lugar… Blá blá blá… (Nossa! Tinha me esquecido o quanto ele sabia ser irritante)

Me lembrei  de um banquinho que tinha na cozinha e desci voando as escadas pra buscá-lo. Quando fui subir, tropecei no terceiro degrau e caí com os pés do banquinho no vitrô da escada que dava para a rua!

– QUE FOI ISSO? – Minha vó gritou da sala, assustada!

– QUE FOI QUE QUEBROU AÍ ??? – Perguntou minha vó, já muito brava!

– ‘PÉÉÉÉÉÉÉRA’ UM POUCO AÍ! – Essa frase era clássica, quando minha vó ficava realmente P da vida! E quando ela dizia isso eu sabia que o ‘chinelo ia cantá’!!!

Subi correndo o resto das escadas e me tranquei no banheiro, com medo de apanhar. 10 segundos depois minha vó estava gritando na porta do
banheiro com o chinelo na mão!

– ABRE ESSA PORTA!

– Vó foi sem querer, eu tropecei e…

– ABRE ESSA PORTA JÁ QUE EU TÔ MANDANDO MENINO!

Agora imaginem vocês, meus amigos, o dilema em que eu me encontrava naquele momento… Eu queria muito jogar todos aqueles jogos, mas eu conhecia bem o peso daquele chinelo e sabia que se eu abrisse aquela porta não precisaria mais de cadeira para sentar!

– PODE IR EMBORA, TODO MUNDO, QUE O RENATO NÃO VAI BRINCAR MAIS HOJE!

– Nãããããooo!!!

Bom, pelo menos aquilo me ajudou a tomar minha decisão e, acreditem, fiquei trancado naquele banheiro por mais de uma hora e meia!

O lado bom da história foi que minha vó se acalmou e eu escapei da surra!

Ah! E na semana seguinte, o Cadu retornou com seu videogame recheado de jogos e eu pude então jogar a tarde toda e matar aquela angústia que me consumia.

PS: Até hoje o vitrô da escada tem um vidro que é diferente dos demais, pois na época o vidraceiro não tinha o mesmo modelo de vidro canelado que compõem o vitrô inteiro.”

Renato Portes

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