“Na rua onde morava não existiam nem locadoras ou fliperamas, e o que sanava o vício da garotada naquele tempo eram os poucos de nós que tinhamos vídeogame (eu me lembro de três, contando comigo) que deixavam os outros muleques jogarem em troca de compensação financeira. Isso até o dia em que o ‘Playtime’ (fliperama local) abriu suas portas. 

Não, meus amigos, eu não fiquei com raiva porque ele iria, eventualmente, destruir meu estabelecimento comercial (que se resumia  a um Super Nintendo). Eu estava muito contente, pois finalmente eu teria a chance de jogar clássicos do arcade como Metal Slug, Cadillacs and Dinosaurs, Fatal Fury, Waku Waku 7, entre outros.

No dia da inauguração, eu estava em casa jogando Donkey Kong Country 2 quando um amigo chega na janela da minha casa gritando:

     – Isnard, corre aqui pra fora e vem ver uma coisa!

Devido ao desespero do meu colega, deixei o vídeo game ligado e fui atrás dele. Chegando lá fora ele me mostrou o recém-inaugurado ‘Playtime’.

Vou até lá e confiro quais jogos tinham (eram cerca de 10 máquinas diferentes) e qual era o preço da ficha (dez centavos). Então volto correndo para casa e peço 20 centavos pra minha mãe, que pega a bolsa e me dá uma moeda de 50 centavos (Oh!). 

Ainda sem fôlego devido à corrida anterior, volto ao fliperama na máxima velocidade e encontro meu amigo lá, ainda esperando.

Depois de um tempo debatendo qual seria a primeira máquina que jogaríamos, decidimos nos enfrentar no Fatal Fury (não lembro qual versão era). Fui ao balcão, comprei duas fichas, retornei à máquina e coloquei as fichas.

Lá estávamos nós, dois moleques com seus 6-7 anos jogando pela primeira vez na vida. Meu amigo escolheu Terry Borgard e eu fui de Mai Shiranui (aqueles peitos sempre me hipnotizaram e ainda o fazem até hoje).

Como vocês devem imaginar nós éramos péssimos, mas eu levava vantagem, pois conseguia soltar um poder (magia, golpe, como preferirem chamar). Para falar a verdade eu não sabia como fazer aquilo, eu só girava o manche e apertava vários botões e ele saia. Então toda vez que meu amigo se aproximava eu usava esse poder (aquele em que Mai fica envolta em fogo) e ele tomava dano e com isso venci o primeiro round com certa facilidade.

Quando começamos o segundo round notei alguém se aproximando por trás da gente, mas não tirei a cara da tela.

Então essa figura misteriosa falou, se dirigindo ao meu amigo:

     – Quer que eu vença ele pra você?

Depois de ouvir isso eu larguei o controle, virei para trás e me deparei com um rapaz com seus 17 anos e uma cara de poucos amigos (o que me deixava meio assustado devido a minha pouca idade, creio eu).

Dirigí meu olhar ao meu colega, questionando se ele seria tão sacana a ponto de aceitar tal proposta. Quando ouví:

     – Quero sim!

Pronto! Uma fúria assassina me dominou naquele instante (ou o que seria equivalente a isso para um guri de seis anos).

Meu amigo saiu e deixou o meliante entrar no lugar dele.

Eu tentei utilizar esse tempo de troca, relativamente rápido, para causar o máximo de dano que eu conseguisse mas, infelizmente, perdi o segundo round.

O terceiro foi uma batalha épica em que eu me superei e por pouco eu venci o desconhecido. Bom, isso era o que eu queria que tivesse acontecido, mas infelizmente perdi sem poder fazer muita coisa contra o desgraçado.

Sai da máquina sem nem olhar pra cara do meu ex-amigo, usei o resto das moedas pra comprar uma pipoca e um picolé e voltei pra casa para jogar DKC 2, que ainda estava ligado.

E quais foram as consequências desse fato na minha formação como gamer? Bem, até hoje eu não costumo entrar nas máquinas se houver alguém jogando. Sempre espero ele morrer pra poder entrar“.

Isnard Carvalho, 23
Recife/PE

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